sábado, 8 de novembro de 2008

AS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS

Conceito:

Necessidade deve ser entendido como “carácter daquilo que é imprescindível”, “que é indispensável, inevitável”, aquilo que é absolutamente necessário” à sobrevivência.

Foram vários os autores que se debruçaram sobre o estudo das necessidades humanas básicas, mas iremos fazer referência apenas a 2 autores: MASLOW e Virgínia HENDERSON.

Nos anos 60 MASLOW identificou várias necessidades humanas que motivam o comportamento. Defendeu a existência de 5 níveis de necessidades humanas e hierarquizou-as de acordo com a sua importância em:

  1. Necessidades fisiológicas – 1.º nível;
  2. Necessidades de segurança e protecção – 2.º nível;
  3. Necessidades de amor e de pertença – 3.º nível;
  4. Necessidades de afecto e auto-estima – 4.º nível
  5. Necessidades de auto-realização – 5.º nível.

As necessidades fisiológicas são as mais importantes. São aquelas actividades necessárias à manutenção da vida, tais como respirar e alimentar-se.

Cada nível superior representa algo menos importante à existência humana do que as anteriores.

Maslow acreditava que só depois das necessidades fisiológicas estarem satisfeitas, é que os indivíduos procurariam a satisfação das necessidades menos cruciais da vida.

Para Virgínia HENDERSON existem 14 necessidades fundamentais que são comuns a todos os indivíduos:

  1. Respirar normalmente;
  2. Comer e beber adequadamente;
  3. Eliminar os resíduos corporais;
  4. Movimentar-se e manter uma postura correcta;
  5. Dormir e repousar;
  6. Vestir-se e despir-se (seleccionando roupas adequadas);
  7. Manter a temperatura do corpo dentro dos limites normais, adaptando a roupa e modificando o ambiente;
  8. Manter o corpo limpo, cuidando e protegendo a pele;
  9. Evitar perigos ambientais e impedir que prejudiquem outros;
  10. Comunicar com os seus semelhantes;
  11. Prestar culto de acordo com a sua fé (agir de acordo com as suas crenças e valores);
  12. Trabalhar de forma a ter uma sensação de realização;
  13. Divertir-se ou participar em actividades recreativas;
  14. Aprender; descobrir ou satisfazer a curiosidade que leve ao desenvolvimento normal e à saúde.

Virgínia Henderson defende que indivíduo é um todo, com necessidades fundamentais, e que quando uma necessidade não está satisfeita, o indivíduo não está completo, inteiro, independente.

Para esta autora, uma necessidade é algo que se precisa.

Ela considera a saúde como o estado no qual o ser humano satisfaz todas as suas necessidades, por si só e sem esforço; é independente. Quando o homem adoece requer assistência para alcançar a saúde e a independência.

Os cuidados de enfermagem são direccionados para a satisfação das necessidades humanas afectadas, e todas as intervenções efectuadas são feitas com o objectivo de manter ou restaurar a independência do indivíduo na satisfação das suas necessidades fundamentais, o mais rápido possível.

Ao descrevermos cada uma das 14 necessidades, iremos fazer referência à forma como elas podem afectar o indivíduo, e particularmente o idoso, visto que cada vez mais este é o utente predominante dos serviços de internamento hospitalar.

1. Respirar normalmente

Os principais sintomas das doenças respiratórias são a tosse, a expectoração e a dispneia.

O reflexo da tosse é uma espécie de “cão de guarda” do pulmão, permitindo libertar este e as vias aéreas (brônquios, laringe e faringe) de secreções ou corpos estranhos.

Quando existe dispneia, esta geralmente é mais acentuada quando a pessoa está deitada.

Os problemas associados à função respiratória podem desencadear outros problemas de dependência, ao nível das outras necessidades fundamentais. Por exemplo, a respiração ineficaz pode desencadear uma intolerância à actividade física e interferir com a necessidade de mobilização e manutenção de uma boa postura.

A necessidade de respirar é razoavelmente afectada pelo envelhecimento. Os idosos costumam manifestar mudanças associadas à idade que comprometem a respiração, como a calcificação da cartilagem das costelas, mudanças no esqueleto na região das vértebras e das costelas, número reduzido de alvéolos pulmonares, redução da elasticidade do pulmão e enfraquecimento do reflexo da tosse.

Os idosos inactivos também correm maior risco de infecções respiratórias, porque fazem uma respiração menos profunda.

2. Beber e comer adequadamente

A alimentação equilibrada ocupa um lugar importante na aquisição de hábitos de vida saudável, e é um dos principais factores para a manutenção da saúde.

Para a manutenção da saúde, o ser humano tem necessidade de uma determinada quantidade de alimentos que contenham os nutrientes indispensáveis à vida. A água, não sendo considerada como alimento, é contudo o elemento mais importante para a satisfação desta necessidade humana.

Ainda que seja possível viver até 10 semanas sem alimentos, é impossível viver mais de alguns dias sem água. Esta assegura o bom funcionamento da maior parte dos processos fisiológicos e tampem a manutenção da temperatura corporal.

A qualidade de vida dos idosos depende em grande parte daquilo que bebem e comem.

O prazer de comer constitui, talvez, uma das poucas satisfações do idoso. Daí a necessidade de captar toda a sua importância e compreender como o envelhecimento pode interferir com a satisfação dessa necessidade.

Esta necessidade é influenciada por factores culturais, económicos, emocionais e sociais. Os mais frequentes são: dentição em mau estado, atrofia dos maxilares com fraqueza muscular, ansiedade, depressão, confusão, anorexia e até a solidão. Por vezes também têm pouco apetite, o qual pode estar relacionado com a diminuição do paladar e do olfacto.

Quando os idosos são deixados sós, sem ter ninguém que se ocupe deles, ficam apáticos perante os alimentos, ou recusam a alimentação, como chamada de atenção. Por outro lado, ao envelhecer e ao perder a autonomia, os idosos, sendo menos capazes de tomar conta de si, negligenciam a alimentação. A apatia, a depressão e a solidão aumentam a sua vulnerabilidade, causando graves riscos de desnutrição.

Alguns doentes precisam de ajuda para se alimentarem, não conseguem cortar os alimentos, nem utilizar os talheres.

3. Eliminar os resíduos corporais

Para se manter saudável, o organismo deve eliminar os produtos resultantes do metabolismo. Este processo denomina-se eliminação, constituindo uma necessidade fundamental.

A necessidade de eliminação dos resíduos corporais é particularmente afectada pela imobilidade e pelo envelhecimento. Assim, os mais idosos quando apresentam redução da capacidade de locomoção ou quando imobilizados no leito, têm geralmente necessidade de intervenção para a eliminação intestinal. Pode acontecer também que, por patologias específicas ou inespecíficas, particularmente no idoso, possa ocorrer uma incontinência das fezes e da urina, que deverão ser objecto de avaliação e de cuidados por parte da equipa de saúde.

As situações de dificuldade na eliminação dos resíduos corporais, nem sempre são devidas a transtornos patológicos ou fisiológicos (envelhecimento), pois muitas das vezes ocorrem por razões psicológicas ou por simples modificação dos hábitos do indivíduo. Lembremos que muitas vezes, no hospital, o doente não tem o clima de privacidade a que está habituado, particularmente quando não pode deslocar-se às instalações sanitárias, para satisfazer as suas necessidades de eliminação.

4. Movimentar-se e manter uma postura correcta

A saúde e o bem-estar dum indivíduo depende da sua capacidade de se mover e mobilizar os membros. A mobilização de todas as partes do corpo através de movimentos coordenados e a manutenção de um bom alinhamento corporal permitem ao organismo desempenhar eficazmente todas as suas funções (respiração, circulação, eliminação, etc.). Além disso, a mobilização activa adequada estimula o apetite e reduz a fadiga.

As alterações sofridas ao longo do processo de envelhecimento do organismo desencadeiam uma diminuição fisiológica da actividade e um acréscimo de dificuldades ao nível da mobilização.

Quando um doente não pode, por qualquer razão, satisfazer esta necessidade, a nossa ajuda é muito importante.

Em função desta necessidade de mobilização, podemos classificar os doentes em três tipos, que de alguma forma nos possibilitam prever a quantidade de cuidados de que necessitam:

· Independentes, se não necessitam de ajuda;

· Semi-dependentes, se necessitam de alguma ajuda para se deslocarem;

· Dependentes, se dependem totalmente dos nossos cuidados.

Alguns doentes estão tão inactivos que a sua saúde se deteriora. A força muscular reduz-se significativamente a partir dos 70 – 80 anos, e muitos idosos necessitam ajuda e exigem tempo na mudança de posição, levante para a cadeira e auxílio na marcha.

A imobilidade dos idosos é particularmente perigosa pois aumenta o risco de pneumonia, úlceras de pressão (escaras), incontinência, défices cognitivos, depressão e osteoporose.

5. Dormir e repousar

A importância da satisfação da necessidade de dormir e repousar para o ser humano, tem a ver com a recuperação e o funcionamento geral do organismo, tornando-se indispensável um período de sono em cada ciclo de 24 horas.

Os idosos queixam-se frequentemente de ter um sono muito leve, de não dormir o suficiente ou ainda de acordar muitas vezes durante a noite.

Para a satisfação desta necessidade, a nossa principal função é proporcionar um ambiente calmo e acolhedor.

6. Vestir-se e despir-se

O vestuário desempenha um papel primordial no bem-estar psicológico dos indivíduos. Estar bem arranjado e bem vestido, proporciona segurança e auto-confiança.

O vestuário deve ser adequado ao doente, tendo em conta o seu conforto, apresentação e ser prático.

Qualquer pessoa sensata avalia o ambiente, vestindo-se em conformidade. O modo de vestir constitui uma forma de comunicação não verbal e é por vezes uma forma do indivíduo exprimir os seus valores pessoais.

Vestir e despir-se, exige muita coordenação, destreza, equilíbrio, uma boa amplitude de movimentos e força muscular. Estas funções são afectadas por um grande número de doenças e também pelo envelhecimento do sistema músculo-esquelético, situações em que é necessário dar ajuda às pessoas afectadas.

7. Manter a temperatura do corpo dentro dos limites normais

O ser humano tem de manter a temperatura corporal dentro dos limites normais, para conservar o seu estado de saúde e bem-estar. A termo-regulação permite manter o equilíbrio entre a produção e a perda de calor.

As temperaturas elevadas podem surgir em qualquer idade na presença de processos infecciosos. Podem ser de aparecimento súbito ou gradual, de forma contínua ou intermitente, com grandes ou pequenas oscilações durante o dia. O conhecimento destes aspectos é importante para o estabelecimento do correcto diagnóstico.

Também as temperaturas baixas ou muito baixas revelam situações patológicas, algumas delas podendo estar relacionadas com a insatisfação da necessidade de e beber comer adequadamente.

Os idosos, de uma maneira geral, têm capacidades para manter a temperatura do corpo dentro dos limites normais. No entanto o seu equilíbrio homeostático é muito mais frágil e a sua capacidade de adaptação é muito menor, tolerando mais dificilmente as temperaturas extremas. São, por isso, muitas vezes vítimas de acidentes hipotérmicos ou de episódios de hipertermia.

A eficácia dos mecanismos de termo-regulação diminui com a idade. A diminuição do metabolismo e a redução da produção de calor culmina no abaixamento da temperatura corporal.

Quando a temperatura normal do adulto saudável for cerca de 37º C, a de um idoso pode ser inferior a 36,6º C ou mesmo 36º C. No entanto esta diminuição da temperatura parece normal, dado que o envelhecimento se acompanha de uma diminuição da actividade de todos os sistemas fisiológicos.

8. Manter o corpo limpo, cuidado e proteger a pele

A independência na satisfação da necessidade de estar limpo e cuidado, permite ao ser humano manter a saúde física e emocional. O significado da necessidade de limpeza e os meios utilizados para a satisfação dessa necessidade, variam em função dos indivíduos.

Tal como em relação ao vestuário, é necessária muita coordenação, destreza e equilíbrio, assim como uma boa amplitude dos movimentos e força muscular para efectuar os cuidados de higiene corporal.

O processo de envelhecimento ao nível do sistema músculo-esquelético, afecta a motricidade e as medidas de higiene pessoal tornam-se mais difíceis de realizar. Também as alterações ao nível da pele (perda de elasticidade) afectam esta necessidade no idoso, tornando-o mais vulnerável aos problemas de dependência.

Os cuidados relacionados com a higiene corporal são muito importantes para a manutenção ou restabelecimento da independência do doente, particularmente do doente idoso. Fazem parte da higiene corporal o banho, o escovar os dentes, o corte e limpeza das unhas, a barba, lavagem do cabelo e o pentear.

Uma pele limpa e íntegra ajuda a prevenir infecções e outras complicações, e promove a auto-estima.

9. Evitar os perigos

O ser humano deve proteger-se contra qualquer agressão interna e externa, e manter a sua integridade física e psicológica. Os estabelecimentos hospitalares são favorecedores de certas agressões e perigos para os doentes, não só os de possível provocação pelos equipamentos que possuem, como também pelo próprio pessoal e pelos outros doentes. Mencionamos entre outros as infecções nosocomiais ou infecções hospitalares, os riscos de alguns medicamentos, riscos eléctricos, riscos de gases, quedas acidentais, agressões físicas e psicológicas, etc..

No início e no fim da vida, o indivíduo é mais vulnerável e frágil. Ao longo de toda a sua vida o indivíduo é agredido por elementos “stressantes”, provenientes do seu ambiente e do que o rodeia, e também de si próprio (hereditariedade, hábitos de vida, etc.). Para se defender e manter integridade biológica, psicológica e social, dispõe de meios naturais (imunidade, força física, inteligência, etc.), de mecanismos de defesa psicológica e de medidas preventivas (boa alimentação, higiene, etc.).

Regra geral o ser humano é capaz de se adaptar ao meio e preservar a vida. Na velhice, no entanto, esta adaptação faz-se com mais dificuldade. Assim, os idosos correm mais riscos de acidentes devidos às mudanças associadas à idade, como as que afectam a mobilidade, o equilíbrio e os órgãos dos sentidos.

10. Comunicar com os seus semelhantes

A comunicação é uma necessidade fundamental, cuja satisfação assenta num conjunto de condições bio-psico-sociais. Para que o ser humano possa ser independente na satisfação da sua necessidade de comunicação, os seus órgãos sensoriais devem estar íntegros, as emoções não o devem impedir de comunicar e terá que ter uma vida social.

A comunicação é mais que uma troca de palavras. Trata-se de um processo dinâmico verbal e não verbal, que permite que as pessoas se tornem acessíveis, uma a outra, que consigam por em comum sentimentos, opiniões, experiências e informações.

A diminuição das capacidades sensoriais causadas pelo envelhecimento, afecta a necessidade de comunicar de cada indivíduo. Esta diminuição manifesta-se por uma redução da capacidade de receber e tratar informação proveniente do meio ambiente. Há idosos que gostam pouco de falar e isso deve ser respeitado. Devem ser tratados pelo seu nome e nunca como se fossem crianças.

Comunicar é uma “arte” que não consiste somente numa troca de palavras, mas num partilhar de emoções, de sentimentos e ideias. Comunicar exige de nós capacidade de falar e principalmente a capacidade de escutar.

11. Agir de acordo com as suas crenças e valores

Todo o ser humano deve possuir um quadro de referência pessoal para apoiar o seu comportamento. Os seus valores e crenças, que são essenciais ao desenvolvimento e actualização, permitem-lhe conservar a identidade, mantendo-se em interacção constante com os seus semelhantes e/ou com o além e/ou Ser Supremo.

O ser humano tem necessidade de agir de acordo com as suas crenças e valores, e de executar gestos e acções conformes com a sua noção pessoal do bem, do mal e da justiça. É isto que constitui a sua dimensão espiritual, quer ele participe ou não nas práticas formais da sua religião.

Para conservar a saúde física e mental, o ser humano deve manter-se em harmonia com a natureza, consigo próprio e com os outros; as suas crenças e valores ajudam-no a conservar este equilíbrio. O bem-estar espiritual, faz parte da definição de saúde.

A crença é uma convicção, uma certeza que uma pessoa tem, face à sua visão da verdade. As crenças são, em geral, de natureza religiosa, filosófica ou política.

O valor é uma forma de crença que dita o comportamento a adoptar ou a evitar.

12. Ocupar-se tendo em vista a auto-realização

A necessidade de se ocupar tendo em vista a auto-realização, está directamente ligada com os diferentes papeis sociais vividos e assumidos por um indivíduo. Realizar um trabalho, adquirir conhecimentos, partilhar o que sabe fazer, são alguns exemplos de realizações que permitem satisfazer esta necessidade fundamental. Embora as maneiras e os meios de se realizar difiram de um indivíduo para outro, esta necessidade está presente ao longo de toda a vida.

O envelhecimento arrasta consigo diferentes mudanças biofisiológicas que levam o ser humano a modificar os meios de que dispõe, para se sentir útil.

Todas as pessoas que trabalham junto de idosos devem estimular a ocupação dos mesmos, a fim de aumentarem a sua auto-estima, de se poderem sentir úteis, não apenas face à sociedade, mas também em relação à família e às pessoas que os rodeiam.

13. Jogar ou participar em actividades recreativas

Distrair-se é uma necessidade de todo o ser humano, e o indivíduo que se diverte com uma ocupação agradável, com o fim de se descontrair física e psicologicamente, satisfaz esta necessidade.

Gerir os tempos livres dos doentes hospitalizados que possuem alguma autonomia constitui uma tarefa bastante complexa. O mesmo se pode dizer em relação ao idoso. Geralmente este passou toda a sua vida a trabalhar ou a educar a família sem ter tempos livres e de repente dispõe de todo o tempo que sonhou ter.

14. Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade

O ser humano que deseja manter ou recuperar a saúde, deve por vezes modificar os seus comportamentos, ou aprender comportamentos novos. Para isso deve adquirir conhecimentos e desenvolver capacidades.

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